7 de fevereiro de 2012

Obras no Maracanã ameaçam ocupação indígena


*Reportagem escrita disponível em português e espanhol

Luciana Lima
Coletivo Tatuzaroio

Nos próximos anos o Brasil será palco de dois megaeventos mundiais: a Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Mas, os verdadeiros craques desse ‘Show do Milhão’, que roubará bilhões dos cofres públicos, não serão jogadores e atletas. Sob os holofotes da ribalta, as verdadeiras estrelas são as grandes empreiteiras multinacionais, que manejam com destreza uma enorme bolada de dinheiro enquanto driblam com profundo virtuosismo os interesses da população. Um exemplo dessa jogada de mestre são as reformas atualmente realizadas no estádio do Maracanã, o famoso “Maraca”, como é carinhosamente conhecido pelos amantes brasileiros do futebol.


No placar dessa jogada, a vantagem das grandes empreiteiras é duplamente esmagadora. Além de contar com um investimento público de 700 milhões de reais, marcando a vitória dos interesses econômicos, elas também vêm desrespeitando os direitos trabalhistas de seus mais 2 mil funcionários, fato que desencadeou, somente no segundo semestre do ano passado, duas greves desses trabalhadores. Mas, os operários não são os únicos a sofrerem os impactos negativos desse projeto. Ali ao lado do estádio, escondidos pelas obras faraônicas do governo e pelas ruínas do antigo Museu do Índio, vive um grupo de indígenas, que também vem sendo, igualmente, ameaçado pela reforma do Maracanã.

Aldeia Maracanã – esse é o nome dado pelos cerca de 25 indígenas que atualmente ocupam o espaço onde funcionou, até final da década de 1970, o antigo Museu Nacional do Índio. O local, que se encontra em área contígua ao famoso estádio de futebol e que ficara abandonado por mais de duas décadas, desde a mudança da referida instituição para o bairro de Botafogo, foi reocupado, no início do ano de 2006, por indígenas de várias etnias, que se encontravam na cidade do Rio de Janeiro. Desde então eles vêm lutando pela revitalização do lugar, onde funciona atualmente um centro cultural. “Nós reassumimos esse espaço com a proposta de dar uma destinação cultural e educacional indígena para o antigo Museu”, afirma um dos integrantes da ocupação, Urutau Guajajara.

A proposta dos indígenas é, no entanto, ainda mais ampla. Eles pretendem fortalecer o centro de cultura e tradições indígenas, que já vem sendo implantando no local, e também constituir ali a primeira Universidade indígena do Brasil – um centro universitário autônomo para a preservação da memória dos povos ameríndios. “A nossa ideia de preservação é administrar e gerir o nosso patrimônio. Um patrimônio administrado e gerido por indígenas, para indígenas e para não indígenas”, defende o indígena Guajajara, que é estudante do curso de mestrado em linguística do Museu Nacional (UFRJ).

Com a finalidade de divulgar o universo cultural dos povos originários ali presentes, o Centro Cultural Indígena da Aldeia Maracanã vem promovendo, regularmente, diversas atividades educacionais nas áreas de arte e cultura indígena, tais como: aulas de língua Tupi-Guarani e oficinas de produção e comercialização de artesanatos. Esses trabalhos vêm sendo também divulgados em diversas escolas do município. Um vez por mês é realizado ainda, no espaço do Antigo museu, um evento cultural de contação de histórias e apresentações de danças, cantos e outros hábitos tradicionais indígenas. O próximo encontro cultural promovido na Aldeia Maracanã irá ocorrer no dia 11 de fevereiro, dada que marca a realização da 28ª edição do evento.

Indígenas em contexto urbano

Segundo dados do último Censo do IBGE, a cidade do Rio de Janeiro abriga, atualmente, um contingente de mais de 30 mil indígenas. São populações de distintas etnias, que vêm de diferentes regiões do país para trocarem experiência e saberes com os moradores do referido centro urbano. Aqui eles exercem diversas atividades: são educadores, artesãos e estudantes, que juntos têm somado esforços para divulgar e promover suas culturas tradicionais. Porém, essas populações vêm enfrentando muitas dificuldades para se manterem na metrópole, sobretudo, devido à falta de incentivos e espaços para desenvolverem seus projetos.

O Centro Cultural Indígena (CCI) da Aldeia Maracanã é um exemplo emblemático desta situação. Sendo coordenado por um coletivo de indígenas que vivem em contexto urbano, a iniciativa, que está em funcionamento desde 2006, tem encontrado, ao longo desta trajetória, muitos obstáculos para realizar de forma sustentável as suas atividades, uma vez que os recursos são escassos. Além disso, devido às obras no estádio do Maracanã, há ainda o risco imanente do despejo. Para manutenção de suas atividades, a organização tem contado com eventuais doações e apoios de colaboradores.

Além das ações anteriormente citadas o CCI tem servido ainda de importante ponto de apoio e referência para os indígenas que chegam de outras localidades à capital fluminense. Tem sido também um importante espaço de pesquisa para estudantes e pesquisadores não indígenas. Esses fatores somados têm contribuído para o fortalecimento da entidade enquanto um pólo de produção e difusão cultural ameríndia.

História do Museu

A história indígena do espaço onde atualmente se insere a Aldeia Maracanã inicia-se no século XIX, quando o espaço é doado para o governo e este institui ali um centro de pesquisa em sementes naturais dos povos indígenas. Posteriormente, já no início do século XX o lugar torna-se sede da Universidade Nacional de Agricultura, atual Universidade Federal Rural. Na década de 1910, com a transferência do referido centro universitário, Marechal Rondon transforma o espaço em sede do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), atual FUNAI.

Anos mais tarde, já em meados do último século, Darcy Ribeiro inaugura no local o primeiro Museu Nacional do Índio. Porém, no final da década de 1970 o Museu do Índio é transferido para o bairro de Botafogo, onde permanece até os dias de hoje, e o espaço fica abandonado. Esquecido por mais de duas década, totalmente entregue às ruínas do tempo, o local é reocupado, no início do presente século, por indígenas de diferentes etnias. Aí começa a história da Aldeia Maracanã, história marcada pela luta indígena em prol da revitalização do espaço e da preservação do patrimônio cultural dos povos originários.

Para Urutau, o atual estado de abandono e degradação do espaço do antigo museu reflete o próprio descaso do poder público com relação às demandas pleiteadas pelas populações originárias brasileiras. “O antigo Museu do Índio é o retrato de como os indígenas têm sido tratados no Brasil ao longo desses 511 anos de massacre e extermínio”, pondera.

As obras no Maracanã

O atual estágio das reformas no estádio de futebol tem preocupado os ocupantes da Aldeia Maracanã. O maquinário pesado utilizado nas obras vem desgastando ainda mais as estruturas já fragilizadas do edifício do antigo museu.

Além disso, a falta de diálogo do poder público com os indígenas da referida ocupação tornam obscuros os planos do governo para o lugar, que já chegou a ser cogitado para abrigar um estacionamento e até mesmo um shopping center. “Como o próprio Estado não nos chama para mesa de negociação nenhuma, nós fazemos a leitura de que, de uma hora para a outra, eles vão chegar aqui para tombar prédio. Mas tombar no sentido de derrubar mesmo. E vão fazer qualquer coisa menos preservar o patrimônio indígena, que é também um patrimônio nacional”, alerta Urutau.

E os indígenas da Aldeia Maracanã não são os único a enfrentarem problemas com as obras no estádio. Somente no segundo semestre do ano passado foram realizadas duas greves dos trabalhadores desse reforma, devido às más condições de trabalho. Comida estragada, não pagamento de hora extra e falta de plano de saúde foram algumas das reivindicações dos proletários. Porém, o forte lobby das empreiteiras que administram as obras do Maracanã levou a própria justiça do trabalho a condenar a paralisação dos operários, julgando-a abusiva e decretando, arbitrariamente, o retorno destes às atividades sem que hovesse, no entanto, qualquer negociação prévia junto às empresas em litígio.

Apesar das polêmicas e injustiças geradas, as obras do Maracanã avançam.


Serviço:
Assunto: Centro Cultural Indígena Aldeia Maracanã realiza 28º encontro de contação de histórias
Data: sábado, 11 de fevereiro de 2011
Horário: a partir das 11h
Local: Centro Cultural Indígena Aldeia Maracanã – Rua Mata Machado, 126, Maracanã, Rio de Janeiro/RJ (entrada pela Av. Radial Oeste)


Obras del Maracanã amenazan toma indígena


Durante los próximos años Brasil será el escenario de dos mega-eventos: el mundial de fútbol en el 2014 y los juegos olímpicos en el 2016. Pero los verdaderos “cracks” de este espectáculo, que extraerá millones de los cofres del Estado no serán ni jugadores ni atletas. Aquí las verdaderas estrellas son las grandes empresas multinacionales, que administran con destreza cantidades enormes de dinero en cuanto driblan con gran virtuosismo los intereses y derechos de la población. Un ejemplo de esa jugada maestra son las reformas que actualmente se realizan en el Maracanã, el “Maraca”, como lo llaman cariñosamente los amantes del fútbol brasileño.


Para las grandes multinacionales el partido comienza con una goleada a su favor. No siendo suficiente contar con una inversión estatal de 700 millones de reales, las grandes empresas pasan a llevar los derechos laborales de los más de dos mil funcionarios de la obra, hecho que desencadenó solamente en el segundo semestre del año pasado, dos paralizaciones de estos trabajadores. Pero los operarios no son los únicos que han sido alcanzados por los impactos negativos de este proyecto. Próximo al estadio, escondido tras las obras faraónicas del gobierno y por los escombros del antiguo Museo del Indio, vive un grupo de indígenas, que también están siendo amenazados por el proyecto del Maracanã.


Aldea Maracanã - así la denominan los más de 25 indígenas al espacio donde funcionó hasta finales de la década de 1970, el antiguo museo del indio. El lugar se encuentra contiguo al estadio en reformas y fue abandonado por más de dos décadas desde la mudanza del museo al barrio de Botafogo. A principios del año 2006, fue re-ocupado por indígenas de varias etnias que se encontraban en la ciudad de Rio de Janeiro. Desde entonces están luchando para revitalizar el lugar, donde actualmente funciona un centro de cultura. “Nosotros reasumimos este espacio con la propuesta de dar una finalidad cultural y educacional indígena al antiguo museo”, afirma uno de los integrantes de la toma Urutau Guajajara.


La propuesta de los indígenas es más amplia. Ellos pretenden fortalecer el centro de cultura y tradiciones indígenas y también constituir en el lugar la primera Universidad Indígena de Brasil. Un centro universitario autónomo para la preservación de la memoria de los pueblos amerindios. “Nuestra idea de preservación es administrar nosotros mismos nuestro patrimonio. Un patrimonio administrado y dirigido por indígenas, para indígenas y para no-indígenas”, defiende Guajajara, que es estudiante del magíster en lingüística del museo nacional (UFRJ).


Con la finalidad de divulgar el universo cultural de los pueblos originarios ahí presentes, el centro cultural indígena da Aldea Maracanã viene promoviendo, regularmente, diversas actividades educacionales en las áreas de arte y cultura indígena, tales como: clases de lengua Tupi-Guarani y oficinas de producción y comercialización de artesanías. Estos trabajos vienen siendo divulgados en varias escuelas de la ciudad. Una vez al mes se realiza un evento de narración de historias y presentaciones de danzas, cantos y otras costumbres indígenas. El próximo encuentro cultural promovido e la aldea maracaná será el dia 11 de febrero que será la 28ª versión del evento.


Los indígenas en el contexto urbano


Según los datos del último Censo del IBGE, la ciudad de Rio de Janeiro tiene actualmente un contingente de más de treinta mil indígenas, son personas de distintas etnias, que vienen de diferentes regiones del país para intercambiar experiencias y conocimientos con los habitantes de esta ciudad. Aquí ellos se desempeñan en diversas actividades; son educadores, artesanos, estudiantes, que juntos han sumado esfuerzos para divulgar y promover sus culturas tradicionales. Sin embargo, vienen enfrentando muchas dificultades para mantenerse en la metrópolis, principalmente por la falta de incentivos y espacios para desarrollar sus proyectos.


El centro cultural indígena (CCI) de la Aldea Maracanã es un ejemplo emblemático de esta situación. Coordinado por un colectivo de indígenas que viven en este contexto urbano, ha encontrado durante su funcionamiento desde el año 2006, muchos obstáculos para realizar plenamente sus actividades, considerando la escasez de recursos. Además, debido a las obras del estadio, existe una constante amenaza de desalojo. Para la mantención de sus actividades, la organización ha contado con algunas donaciones eventuales de colaboradores.


Además de las acciones ya citadas, el CCI ha servido como un puente de apoyo y referencia para los indígenas que llegan de otras localidades a la capital fluminense. Ha sido también un importante espacio de investigación para estudiantes e investigadores no-indígenas. Estos factores sumados han contribuido al fortalecimiento de la organización como un polo de producción y difusión cultural indígena.


Historia del Museo


La historia indígena del espacio donde actualmente se inserta la aldea se inicia en el siglo XIX, cuando el espacio es donado por el gobierno para un centro de investigación en semillas indígenas. Posteriormente, en el siglo XX, el lugar se tornó la Universidad Nacional de Agricultura, actual Universidad Federal Rural. En la década de 1910, con la transferencia del centro universitario, Marechal Rodon transforma el espacio en sede del Servicio de Protección al Indio (SPI), actual FUNAI.


Años más tarde, a mitad del mismo siglo, Darcy Ribeiro inaugura en el lugar el primer Museo Nacional del Indio. Sin embargo, a fines de la década de 1970, el museo del indio es transferido al barrio de Botafogo, donde permanece hasta el día de hoy. Olvidado por mas de dos décadas, totalmente abandonado en el tiempo, el lugar es re-ocupado, a principios del siglo XXI por indígenas de diferentes etnias. Ahí comienza la historia de la Aldea Maracanã, historia marcada por la lucha indígena en pro de la re-vitalización del espacio y la preservación del patrimonio cultural de los pueblos originarios.


Para Urutau, el actual estado de abandono y degradación de este espacio refleja el propio olvido del poder público en relación a las demandas planteadas por las poblaciones originarias brasileiras. “El antiguo museo del indio es el retrato de como los indígenas han sido tratados en Brasil a lo largo de 511 años de masacre y exterminio” concluyó.


Las obras en el Maracanã


El actual estado de las reformas del estadio ha preocupado a los ocupantes de la aldea maracanã. Las maquinarias pesadas usadas en las obras han desgastado aún más las frágiles estructuras del ex-museo.


Además de esto, la falta de dialogo entre el poder público y los indígenas vuelven oscuros los planes del gobierno para el lugar, que ya fue pensado como un estacionamiento e incluso como un shopping center. “Como el propio Estado no nos llama para una mesa de negociación, nosotros entendemos que, de un momento para otro ellos llegarán aquí y derrumbarán el edificio. Y harán cualquier cosa menos preservar el patrimonio indígena, que es también un patrimonio nacional”, dice Urutau.


Y los indígenas de la aldea Maracanã no son los únicos en enfrentar problemas con las obras del estadio. Solamente en el segundo semestre del año pasado se realizaron 2 protestas de los trabajadores de la reforma. Comida en mal estado, el no pago de horas extras y la falta de un plan de salud fueron algunas de las reivindicaciones de los proletarios. Sin embargo, el fuerte lobby de las grandes empresas que administra el proyecto, llevó a la propia justicia del trabajo a condenar la paralización de los operarios, considerándola abusiva y decretando, arbitrariamente, el retorno de estos a las actividades sin que hubiese ninguna negociación previa junto a las empresas.


A pesar de las polémicas e injusticias generadas, las obras del Maracanã continúan avanzando.

Tradução: Juan Pablo Díaz - Coletivo TatuZaroio

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