*Reportagem escrita disponível em português e espanhol
Luciana Lima
Coletivo Tatuzaroio
Nos
próximos anos o Brasil será palco de dois megaeventos mundiais: a
Copa do Mundo, em 2014, e os Jogos Olímpicos, em 2016. Mas, os
verdadeiros craques desse ‘Show do Milhão’, que roubará bilhões
dos cofres públicos, não serão jogadores e atletas. Sob os
holofotes da ribalta, as verdadeiras estrelas são as grandes
empreiteiras multinacionais, que manejam com destreza uma enorme
bolada de dinheiro enquanto driblam com profundo virtuosismo os
interesses da população. Um exemplo dessa jogada de mestre são as
reformas atualmente realizadas no estádio do Maracanã, o famoso
“Maraca”, como é carinhosamente conhecido pelos amantes
brasileiros do futebol.
No placar
dessa jogada, a vantagem das grandes empreiteiras é duplamente
esmagadora. Além de contar com um investimento público de 700
milhões de reais, marcando a vitória dos interesses econômicos,
elas também vêm desrespeitando os direitos trabalhistas de seus
mais 2 mil funcionários, fato que desencadeou, somente no segundo
semestre do ano passado, duas greves desses trabalhadores. Mas, os
operários não são os únicos a sofrerem os impactos negativos
desse projeto. Ali ao lado do estádio, escondidos pelas obras
faraônicas do governo e pelas ruínas do antigo Museu do Índio,
vive um grupo de indígenas, que também vem sendo, igualmente,
ameaçado pela reforma do Maracanã.
Aldeia
Maracanã – esse é o nome dado pelos cerca de 25 indígenas
que atualmente ocupam o espaço onde funcionou, até final da década
de 1970, o antigo Museu Nacional do Índio. O local, que se encontra
em área contígua ao famoso estádio de futebol e que ficara
abandonado por mais de duas décadas, desde a mudança da referida
instituição para o bairro de Botafogo, foi reocupado, no início do
ano de 2006, por indígenas de várias etnias, que se encontravam na
cidade do Rio de Janeiro. Desde então eles vêm lutando pela
revitalização do lugar, onde funciona atualmente um centro
cultural. “Nós reassumimos esse espaço com a proposta de dar uma
destinação cultural e educacional indígena para o antigo Museu”,
afirma um dos integrantes da ocupação, Urutau Guajajara.
A
proposta dos indígenas é, no entanto, ainda mais ampla. Eles
pretendem fortalecer o centro de cultura e tradições indígenas,
que já vem sendo implantando no local, e também constituir ali a
primeira Universidade indígena do Brasil – um centro universitário
autônomo para a preservação da memória dos povos ameríndios. “A
nossa ideia de preservação é administrar e gerir o nosso
patrimônio. Um patrimônio administrado e gerido por indígenas,
para indígenas e para não indígenas”, defende o indígena
Guajajara, que é estudante do curso de mestrado em linguística do
Museu Nacional (UFRJ).
Com
a finalidade de divulgar o universo cultural dos povos originários
ali presentes, o
Centro Cultural Indígena da Aldeia Maracanã vem promovendo,
regularmente,
diversas atividades educacionais nas áreas de arte e cultura
indígena, tais como: aulas de língua Tupi-Guarani e oficinas de
produção e comercialização de artesanatos. Esses trabalhos vêm
sendo também divulgados em diversas escolas do município. Um vez
por mês é realizado ainda, no espaço do Antigo museu, um evento
cultural de contação de histórias e apresentações de danças,
cantos e outros hábitos tradicionais indígenas. O próximo encontro
cultural promovido na Aldeia Maracanã irá ocorrer no dia 11 de
fevereiro, dada que marca a realização da 28ª edição do evento.
Indígenas
em contexto urbano
Segundo
dados do último Censo do IBGE, a cidade do Rio de Janeiro abriga,
atualmente, um contingente de mais de 30 mil indígenas. São
populações de distintas etnias, que vêm de diferentes regiões do
país para trocarem experiência e saberes com os moradores do
referido centro urbano. Aqui eles exercem diversas atividades: são
educadores, artesãos e estudantes, que juntos têm somado esforços
para divulgar e promover suas culturas tradicionais. Porém, essas
populações vêm enfrentando muitas dificuldades para se manterem na
metrópole, sobretudo, devido à falta de incentivos e espaços para
desenvolverem seus projetos.
O
Centro Cultural Indígena (CCI) da Aldeia
Maracanã
é um exemplo emblemático desta situação. Sendo coordenado por um
coletivo de indígenas que vivem em contexto urbano, a iniciativa,
que está em funcionamento desde 2006, tem encontrado, ao longo desta
trajetória, muitos obstáculos para realizar de forma sustentável
as suas atividades, uma vez que os recursos são escassos. Além
disso, devido às obras no estádio do Maracanã, há ainda o risco
imanente do despejo. Para manutenção de suas atividades, a
organização tem contado com eventuais doações e apoios de
colaboradores.
Além
das ações anteriormente citadas o CCI tem servido ainda de
importante ponto de apoio e referência para os indígenas que chegam
de outras localidades à capital fluminense. Tem sido também um
importante espaço de pesquisa para estudantes e pesquisadores não
indígenas. Esses fatores somados têm contribuído para o
fortalecimento da entidade enquanto um pólo de produção e difusão
cultural ameríndia.
História
do Museu
A
história indígena do espaço onde atualmente se insere a Aldeia
Maracanã inicia-se no século XIX, quando o espaço é doado para o
governo e este institui ali um centro de pesquisa em sementes
naturais dos povos indígenas. Posteriormente, já no início do
século XX o lugar torna-se sede da Universidade Nacional de
Agricultura, atual Universidade Federal Rural. Na década de 1910,
com a transferência do referido centro universitário, Marechal
Rondon transforma o espaço em sede do Serviço de Proteção ao
Índio (SPI), atual FUNAI.
Anos mais
tarde, já em meados do último século, Darcy Ribeiro inaugura no
local o primeiro Museu Nacional do Índio. Porém, no final da
década de 1970 o Museu do Índio é transferido para o bairro de
Botafogo, onde permanece até os dias de hoje, e o espaço fica
abandonado. Esquecido por mais de duas década, totalmente entregue
às ruínas do tempo, o local é reocupado, no início do presente
século, por indígenas de diferentes etnias. Aí começa a história
da Aldeia Maracanã, história marcada pela luta indígena em
prol da revitalização do espaço e da preservação do patrimônio
cultural dos povos originários.
Para
Urutau, o atual estado de abandono e degradação do espaço do
antigo museu reflete o próprio descaso do poder público com relação
às demandas pleiteadas pelas populações originárias brasileiras.
“O antigo Museu do Índio é o retrato de como os indígenas têm
sido tratados no Brasil ao longo desses 511 anos de massacre e
extermínio”, pondera.
As obras no Maracanã
O atual
estágio das reformas no estádio de futebol tem preocupado os
ocupantes da Aldeia Maracanã. O maquinário pesado utilizado nas
obras vem desgastando ainda mais as estruturas já fragilizadas do
edifício do antigo museu.
Além
disso, a falta de diálogo do poder público com os indígenas da
referida ocupação tornam obscuros os planos do governo para o
lugar, que já chegou a ser cogitado para abrigar um estacionamento e
até mesmo um shopping center. “Como o próprio Estado não
nos chama para mesa de negociação nenhuma, nós fazemos a leitura
de que, de uma hora para a outra, eles vão chegar aqui para tombar
prédio. Mas tombar no sentido de derrubar mesmo. E vão fazer
qualquer coisa menos preservar o patrimônio indígena, que é também
um patrimônio nacional”, alerta Urutau.
E os
indígenas da Aldeia Maracanã não são os único a enfrentarem
problemas com as obras no estádio. Somente no segundo semestre do
ano passado foram realizadas duas greves dos trabalhadores desse
reforma, devido às más condições de trabalho. Comida estragada,
não pagamento de hora extra e falta de plano de saúde foram algumas
das reivindicações dos proletários. Porém, o forte lobby
das empreiteiras que administram as obras do Maracanã levou a
própria justiça do trabalho a condenar a paralisação dos
operários, julgando-a abusiva e decretando, arbitrariamente, o
retorno destes às atividades sem que hovesse, no entanto, qualquer
negociação prévia junto às empresas em litígio.
Apesar
das polêmicas e injustiças geradas, as obras do Maracanã avançam.
Serviço:
Assunto:
Centro Cultural Indígena Aldeia Maracanã realiza 28º
encontro de contação de histórias
Data:
sábado, 11 de fevereiro de 2011
Horário:
a partir das 11h
Local:
Centro Cultural Indígena Aldeia Maracanã – Rua Mata Machado, 126,
Maracanã, Rio de Janeiro/RJ (entrada pela Av. Radial Oeste)
Informações:
http://centroculturalindigena.jimdo.com
Obras del Maracanã amenazan toma indígena
Durante
los próximos años Brasil será el escenario de dos mega-eventos: el
mundial de fútbol en el 2014 y los juegos olímpicos en el 2016. Pero los
verdaderos “cracks” de este espectáculo, que extraerá millones de los
cofres del Estado no serán ni jugadores ni atletas. Aquí las verdaderas
estrellas son las grandes empresas multinacionales, que administran con
destreza cantidades enormes de dinero en cuanto driblan con gran
virtuosismo los intereses y derechos de la población. Un ejemplo de esa
jugada maestra son las reformas que actualmente se realizan en el
Maracanã, el “Maraca”, como lo llaman cariñosamente los amantes del
fútbol brasileño.
Para
las grandes multinacionales el partido comienza con una goleada a su
favor. No siendo suficiente contar con una inversión estatal de 700
millones de reales, las grandes empresas pasan a llevar los derechos
laborales de los más de dos mil funcionarios de la obra, hecho que
desencadenó solamente en el segundo semestre del año pasado, dos
paralizaciones de estos trabajadores. Pero los operarios no son los
únicos que han sido alcanzados por los impactos negativos de este
proyecto. Próximo al estadio, escondido tras las obras faraónicas del
gobierno y por los escombros del antiguo Museo del Indio, vive un grupo
de indígenas, que también están siendo amenazados por el proyecto del
Maracanã.
Aldea Maracanã
- así la denominan los más de 25 indígenas al espacio donde funcionó
hasta finales de la década de 1970, el antiguo museo del indio. El lugar
se encuentra contiguo al estadio en reformas y fue abandonado por más
de dos décadas desde la mudanza del museo al barrio de Botafogo. A
principios del año 2006, fue re-ocupado por indígenas de varias etnias
que se encontraban en la ciudad de Rio de Janeiro. Desde entonces están
luchando para revitalizar el lugar, donde actualmente funciona un centro
de cultura. “Nosotros reasumimos este espacio con la propuesta de dar
una finalidad cultural y educacional indígena al antiguo museo”, afirma
uno de los integrantes de la toma Urutau Guajajara.
La
propuesta de los indígenas es más amplia. Ellos pretenden fortalecer el
centro de cultura y tradiciones indígenas y también constituir en el
lugar la primera Universidad Indígena de Brasil. Un centro universitario
autónomo para la preservación de la memoria de los pueblos amerindios.
“Nuestra idea de preservación es administrar nosotros mismos nuestro
patrimonio. Un patrimonio administrado y dirigido por indígenas, para
indígenas y para no-indígenas”, defiende Guajajara, que es estudiante
del magíster en lingüística del museo nacional (UFRJ).
Con
la finalidad de divulgar el universo cultural de los pueblos
originarios ahí presentes, el centro cultural indígena da Aldea Maracanã
viene promoviendo, regularmente, diversas actividades educacionales en
las áreas de arte y cultura indígena, tales como: clases de lengua
Tupi-Guarani y oficinas de producción y comercialización de artesanías.
Estos trabajos vienen siendo divulgados en varias escuelas de la ciudad.
Una vez al mes se realiza un evento de narración de historias y
presentaciones de danzas, cantos y otras costumbres indígenas. El
próximo encuentro cultural promovido e la aldea maracaná será el dia 11
de febrero que será la 28ª versión del evento.
Los indígenas en el contexto urbano
Según
los datos del último Censo del IBGE, la ciudad de Rio de Janeiro tiene
actualmente un contingente de más de treinta mil indígenas, son personas
de distintas etnias, que vienen de diferentes regiones del país para
intercambiar experiencias y conocimientos con los habitantes de esta
ciudad. Aquí ellos se desempeñan en diversas actividades; son
educadores, artesanos, estudiantes, que juntos han sumado esfuerzos para
divulgar y promover sus culturas tradicionales. Sin embargo, vienen
enfrentando muchas dificultades para mantenerse en la metrópolis,
principalmente por la falta de incentivos y espacios para desarrollar
sus proyectos.
El
centro cultural indígena (CCI) de la Aldea Maracanã es un ejemplo
emblemático de esta situación. Coordinado por un colectivo de indígenas
que viven en este contexto urbano, ha encontrado durante su
funcionamiento desde el año 2006, muchos obstáculos para realizar
plenamente sus actividades, considerando la escasez de recursos. Además,
debido a las obras del estadio, existe una constante amenaza de
desalojo. Para la mantención de sus actividades, la organización ha
contado con algunas donaciones eventuales de colaboradores.
Además
de las acciones ya citadas, el CCI ha servido como un puente de apoyo y
referencia para los indígenas que llegan de otras localidades a la
capital fluminense. Ha sido también un importante espacio de
investigación para estudiantes e investigadores no-indígenas. Estos
factores sumados han contribuido al fortalecimiento de la organización
como un polo de producción y difusión cultural indígena.
Historia del Museo
La
historia indígena del espacio donde actualmente se inserta la aldea se
inicia en el siglo XIX, cuando el espacio es donado por el gobierno para
un centro de investigación en semillas indígenas. Posteriormente, en el
siglo XX, el lugar se tornó la Universidad Nacional de Agricultura,
actual Universidad Federal Rural. En la década de 1910, con la
transferencia del centro universitario, Marechal Rodon transforma el
espacio en sede del Servicio de Protección al Indio (SPI), actual FUNAI.
Años
más tarde, a mitad del mismo siglo, Darcy Ribeiro inaugura en el lugar
el primer Museo Nacional del Indio. Sin embargo, a fines de la década de
1970, el museo del indio es transferido al barrio de Botafogo, donde
permanece hasta el día de hoy. Olvidado por mas de dos décadas,
totalmente abandonado en el tiempo, el lugar es re-ocupado, a principios
del siglo XXI por indígenas de diferentes etnias. Ahí comienza la
historia de la Aldea Maracanã, historia marcada por la lucha indígena en
pro de la re-vitalización del espacio y la preservación del patrimonio
cultural de los pueblos originarios.
Para
Urutau, el actual estado de abandono y degradación de este espacio
refleja el propio olvido del poder público en relación a las demandas
planteadas por las poblaciones originarias brasileiras. “El antiguo
museo del indio es el retrato de como los indígenas han sido tratados en
Brasil a lo largo de 511 años de masacre y exterminio” concluyó.
Las obras en el Maracanã
El
actual estado de las reformas del estadio ha preocupado a los ocupantes
de la aldea maracanã. Las maquinarias pesadas usadas en las obras han
desgastado aún más las frágiles estructuras del ex-museo.
Además
de esto, la falta de dialogo entre el poder público y los indígenas
vuelven oscuros los planes del gobierno para el lugar, que ya fue
pensado como un estacionamiento e incluso como un shopping center. “Como
el propio Estado no nos llama para una mesa de negociación, nosotros
entendemos que, de un momento para otro ellos llegarán aquí y
derrumbarán el edificio. Y harán cualquier cosa menos preservar el
patrimonio indígena, que es también un patrimonio nacional”, dice
Urutau.
Y
los indígenas de la aldea Maracanã no son los únicos en enfrentar
problemas con las obras del estadio. Solamente en el segundo semestre
del año pasado se realizaron 2 protestas de los trabajadores de la
reforma. Comida en mal estado, el no pago de horas extras y la falta de
un plan de salud fueron algunas de las reivindicaciones de los
proletarios. Sin embargo, el fuerte lobby de las grandes empresas que
administra el proyecto, llevó a la propia justicia del trabajo a
condenar la paralización de los operarios, considerándola abusiva y
decretando, arbitrariamente, el retorno de estos a las actividades sin
que hubiese ninguna negociación previa junto a las empresas.
A pesar de las polémicas e injusticias generadas, las obras del Maracanã continúan avanzando.
Tradução: Juan Pablo Díaz - Coletivo TatuZaroio
Tradução: Juan Pablo Díaz - Coletivo TatuZaroio
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